sábado, 26 de março de 2011

Cuidado com os enxaguantes bucais

Ministério Público pede que enxaguantes bucais
com álcool tragam aviso de risco de câncer
Estudos científicos relacionam uso do produto com tumor na boca, diz MPF
Do R7

Uma ação do Ministério Público Federal em Guarulhos pede que os fabricantes de enxaguantes bucais com álcool informem em seus rótulos e embalagens que os produtos causam danos à saúde. O pedido foi feito nesta sexta-feira (25).

Segundo o MPF, estudos indicam que o uso diário e indiscriminado desses produtos pode causar câncer de boca. O órgão cita ainda, por meio de nota, estudos da Academia Dental Australiana e da USP (Universidade de Sâo Paulo) para justificar o pedido.

- Outro dado preocupante é o aumento de 2.277%, entre 1992 e 2007, do uso desse tipo de produto no Brasil.

acordo com a nota, o MPF pediu um parecer da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) sobre os resultados dos estudos.


- Em resposta, a agência reguladora limitou-se a informar, em parecer superficial, que a literatura científica pesquisada até o momento não fornecia dados suficientes [...]. Questionada novamente, a Anvisa concluiu que não havia necessidade de elaborar nota sobre o assunto”.
Para o procurador da República Matheus Baraldi Magnani, autor da ação, a posição da Anvisa é “no mínimo negligente diante da gravidade dos fatos”.
- Não é sustentável que a Anvisa diga que não há elementos consistentes sobre a relação do uso do produto com álcool e câncer.
Se a Justiça aprovar o pedido de liminar do MPF, a Anvisa terá que exigir a medida dos fabricantes.
A reportagem não conseguiu contato com a Anvisa até a publicação desta matéria.
Notas:
1. No sítio da Anvisa, o serviço de busca está em manutenção. Nenhuma das últimas notícias da Agência trata deste assunto.
2. Trabalho científico realizado por pesquisadores de São Paulo com 309 pacientes com câncer de boca e orofaringe (garganta) e 468 indivíduos sem a doença, publicado na Revista de Saúde Pública em 2008, mostrou associação entre o câncer da faringe e o uso diário de enxaguatórios bucais. O risco de tumor triplicou nas pessoas que usavam regularmente esses produtos em comparação com as que nunca os usaram. Abaixo, o resumo do estudo:
OBJETIVO: Avaliar a associação entre saúde e higiene bucal na ocorrência de câncer oral.
MÉTODOS: Estudo caso–controle de base hospitalar, realizado entre 1998 e 2002 na área metropolitana de São Paulo, SP. Foram incluídos 309 pacientes com carcinoma epidermóide de boca e orofaringe e 468 controles, pareados com os casos por sexo e idade. Os casos foram levantados em sete hospitais que concentram a assistência médica a pacientes com a doença e os controles rastreados em cinco hospitais gerais dentre os sete. Informações pormenorizadas sobre tabagismo, consumo de álcool, escolaridade, saúde bucal e práticas de higiene bucal foram obtidas por entrevista. Por meio de análise de regressão logística não condicional foram calculados odds ratios (OR) e intervalos com 95% de confiança (IC 95%), ajustados por sexo, idade, nível educacional, tabagismo e consumo de álcool, bem como para as demais variáveis de saúde e higiene bucal.
RESULTADOS: Uso de prótese bucal total não se associou a câncer oral, mas sangramento gengival freqüente apresentou alta associação (OR=3,1; IC 95%: 1,2;7,9). Nunca ter consultado dentista mostrou associação com câncer oral (OR=2,5; IC 95%: 1,3;4,8). Uso diário de enxaguatórios bucais apresentou associação mais intensa com tumores de faringe (OR=4,7; IC 95%: 1,8;12,5) do que com tumores de boca (OR=3,2; IC 95%: 1,6;6,3).
CONCLUSÕES: Sangramento gengival, ausência de consultas com dentistas e uso regular de enxaguatórios bucais foram fatores associados com câncer oral, independentemente de tabagismo e consumo de bebidas alcoólicas.
Aqui, o link para o texto completo do estudo, em inglês:
http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-89102008000300012&lng=en&nrm=iso&tlng=en
Destaco o trecho da discussão dos autores do estudo sobre os enxaguatórios:
"In the present study, the proportion of cases who reported using mouthwash products one or more times a day was a little over twice that of controls (15.4% vs. 6.9%, respectively). Association with oral cancer was 3–fold higher in subjects who frequently used mouthwash products than among those who never used them."

3. O tema é importante para a saúde pública e merece atenção dos profissionais de saúde e autoridades, sobretudo em relação aos enxaguatórios bucais que contêm álcool na formulação.

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